quinta-feira, 28 de julho de 2011

APETECE-ME

O PAI

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.

Pablo Neruda, in "Crepusculário"
Tradução de Rui Lage

A todos os PAIS do Mundo

2 comentários:

  1. Zeparafuso,

    E apeteceu-te muito bem!
    É bom, é justo que não esqueçamos a figura do nosso pai.

    Se não te importas faço minhas as tuas palavras:

    A todos os Pais do mundo.

    Abraço.

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  2. E olhe que lhe apeteceu muito bem.
    neruda, é neruda...

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