quarta-feira, 8 de setembro de 2010

HISTÓRIA QUE A HISTÓRIA VAI PERDENDO

Pretenderam os miguelistas apoderar-se da ilha Terceira, que era ao tempo um dos baluartes do liberalismo a que aqueles se propunham. Para isso enviaram uma esquadra com tropas de desembarque, que escolheram para saltar para terra em Vila da Praia. Era a Vila defendida por seis fortins, pouco artilhados e deficientemente guarnecidos, suprindo a escassez numérica dos defensores, sendo a sua maioria voluntários liberais, a bravura com que defendiam a sua causa. Assim conseguiram ficar vencedores na renhida luta, esses bravos, antes de chegarem reforços, que de Angra, lhes levava o Conde de Vila Flôr. Foi daí que Vila da Praia, passou a chamar-se Vila Praia da Vitória. è dessa famosa acção da Vila da Praia que conta a nossa história o seguinte episódio, que demonstra a abnegação de um português terceirense. O forte de S. José, um dos fortins da vila, armado com duas bocas de fogo e tendo por guarnição apenas cerca de 20 soldados, era comandado por um sargento de voluntários. Nesse forte se apresentou, antes de começar o fogo da esquadra atacante, um veterano septuagenário, Manuel Caetano, natural de Cabo da Praia. Dirigindo-se ao sargento comandante, disse-lhe que ia ensinar dois filhos que tinha na guarnição do forte, a fazer a pontaria das peças de que eram serventes e ao mesmo tempo aconselhou o comandante a que mandasse fechar a porta do forte e guardasse a chave, porque estes mancebos são muito bisonhos e ainda não ouviram zunir pelouros, dizia referindo-se aos filhos. O bom humor do veterano durou pouco, porque assim que o fogo começou, uma bala inimiga matou um dos seus filhos. O bom velho, procurando ocultar a sua dor de pai e querendo mostrar-se animado, voltou-se para o outro filho dizendo com alguma energia, para desviar o irmão que já tinha pago com a sua vida à Pátria e que agora teriam que o vingar. Este velho dá-nos duas lições de abnegação: A primeira, na decisão com que, em vez de ficar em casa a aguardar os acontecimentos, corre ao local do perigo, talvez guiado pelo amor paternal e pelo amor da Liberdade que seus filhos defendem tão valorosamente. A segunda, na energia com que suporta a dor da perda de um dos filhos, dando-a por bem empregue ao serviço da Pátria e com que incita o outro a que procure vingar a morte do irmão. Português de boa têmpera o velho Manuel Caetano. ( in Tradição Histórica de Portugal, Gen. Ferreira Martins ). Todas estas histórias ou lenda ou aquilo que queiram chamar, são actos que a nossa história foi mencionando ao longo dos tempos e que nós nos vamos distanciando cada vez mais. São história que não fazem mal nenhum serem lembradas. Lembrar que um dia tivemos heróis, que para podermos estar aqui agora, houve alguém que estava disposto a pagar cpom a vida a Liberdade, que tanto alarde nós fazemos. Com sacrifício de uns, conseguimos agora ser Livres. Vale sempre a pena não esquecermos, pessoas do tipo de Manuel Caetano.

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