Apetece-me deixar aqui um soneto de Florbela Espanca. Talvez lembrando-me ainda dos lares clandestinos e não. Não vou alterar nada com este soneto, só exprimir minha raiva.
DEIXAI ENTRAR A MORTE
Deixai entrar a morte, a Iluminada,
A quem vem para mim, para me levar.
Abri todas as portas par em par
Como asas a bater em revoada
Que sou eu neste mundo? A deserdada,
A que prendeu nas mãos todo o luar,
A vida inteira, o sonho, a terra, o mar,
E que, ao abri-las, não encontrou nada!
Ó Mãe! Ó minha Mãe, para que nasceste?
Entre agonias e em dores tamanhas
Para que foi, dize lá, que me trouxeste
Dentro de ti?... Para que eu tivesse sido
Somente o fruto amargo das entranhas
Dum lírio que em má hora foi nascido!...
Alertar também quem pensa que os nossos velhos merecem tudo de bom. Deram-nos Vida. Somos aquilo que somos a eles o devemos, mesmo aqueles a quem a Vida passou ao lado.
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