Acontece e ainda bem que poucas vezes.
Às vezes somos surpreendidos pelas decisões de pessoas de quem gostamos, que são nossas amigas de infância, uma infância que já vai muito longe. Talvez, por ser uma longa amizade a surpresa seja maior. Às vezes custa-nos perder o amigo, que durante uma vida inteira foi, pessoa integra, amiga do seu amigo, não esquecendo nunca as suas origens, as suas convicções, consciente de todos os seus actos, mesmo este de agora, que a nós, amigos, parece inconsciência, não o seja tanto. Às vezes as decisões que tomamos parecem puro egoísmo, mas reflectindo sobre o motivo da decisão, não parece tanto assim. Quem sofre e está consciente, saberá que decisão tomar, por muito que custe aos outros. Poderão haver pessoas que pensem que essa decisão não cabe a cada um, quem está por fora destas situações acha isso. E quem está a sofrer há anos? Quem sofre e vê que os tratamentos não resultam? Quem sofre e pensa no trabalho que dá aos que o rodeiam, a quem ama, mesmo estes achando que estão a proceder do modo correcto e que o não querem perder? Decisão difícil de tomar! Decisão de quem pensa que já chega. Decisão de quem pensa que é dono de si próprio. Decisão de quem chega ao limite. Uma decisão que os amigos estão a tentar contrariar, uma decisão que os amigos sabem que está tomada, porque conhecendo-o, sabem que não há retrocesso. Tenho pena de não conseguir passar para a escrita, aquilo que sinto, no fundo tenho pena de não saber escrever. Mas é difícil passar para a escrita um sentimento. Assim sendo, só mesmo terminar com quem sabe mais que eu, um soneto de Florbela Espanca:
Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
-E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...
São assim ocos, rudes, os meus versos;
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!
( Não sei se me aliviaria o sentimento, só sei que o sentimento de perda mão se consegue passar a escrito, por mais que tentemos, a não ser pelos predestinados para a escrita. Só sei que sinto, uma perda antes de perder. Não é bem uma perda por antecipação, será uma perda programada, mas difícil de aceitar. Será uma perda consciente, dificilmente aceite. Este meu desabafo é isso mesmo, um desabafo. Um desabafo que não consegui guardar só para mim, o desabafo de quem sente que um amigo está preparado para partir, um desabafo de quem não está preparado, mesmo sabendo qual é o desfecho. ). Por vezes somos surpreendidos por decisões, que não aceitamos de ânimo leve, por decisões que nos fazem pensar, o porquê. Decisões que para nós não têm explicação, mas que fazem todo o sentido para quem as toma. Terás sempre lugar no meu coração, aliás como sempre tiveste, mesmo estando longe. Um dia nos encontraremos. Até lá!!
percebi a mensagem e o sentimento. a decisão é dificil pq n há 2.º take. somos todos impotentes perante certas situações. n é possivel fingir que é tudo normal, dar o amor q n se daria se n houvesse hora marcada para morrer, estar a assistir, ser a propria pessoa..tema dificil
ResponderEliminarhttp://bibliofiliaentreparentesis.blogspot.com/2010/12/viktor-frankl-ou-tese-do-optimismo.html
ResponderEliminaras perdas ou perdas anunciadas são sempre muito dolorosas, são vidas, amizades, caminhantes no nosso caminho, pouco importa o que eu penso sobre a eutanásia,mas posso entender o sofrimento do teu amigo e o teu sofrimento,que Deus o possa proteger da dor do sofrimento que o possa curar, se isso não poder acontecer que o guie no caminho da Luz e lhe dê a paz que ele necessita, não sei qual a doença do teu amigo, no entanto posso-te dizer que a minha mãe morreu com cancro e sofreu muito eu só pedia que Deus a levasse para parar tanto sofrimento, isto para te dizer que entendo as duas partes
ResponderEliminarBjs
Não precisávas de recorrer à Florbela Espanca. O teu desgosto, mágoa, impotência, saudade (desde já) estão bem patentes.
ResponderEliminarPerder alguém que se ama, desde um familiar a um amigo, é um momento de enorme sofrimento.
Estou contigo, acredita.
Abraço