sábado, 18 de setembro de 2010

HISTÓRIA QUE A HISTÓRIA VAI PERDENDO

Em plena batalha, um soldado de artilharia, foi mandado, da sua bateria em combate, ao comando do Grupo, levar uma mensagem, acompanhando ao mesmo tempo um Alferes gaseado. Não foi fácil o percurso porque o terreno entre as baterias e o comando do Grupo estava já varrido pela artilharia inimiga. Ao chegar ao comando do Grupo, tendo desempenhado a sua missão, viu o nosso soldado que o comandante estava embaraçado, porque precisava de transmitir uma ordem às suas baterias, mas faltavam-lhe meios de ligação. O prolongado bombardeamento da artilharia inimiga, não só tinha cortado qualquer ligação telefónica, como escavado o terreno de tal forma que quase era impossível o emprego de agentes de ligação. Perante a hesitação do comandante do Grupo, o nosso soldado, que acabara de chegar depois de cumprir a missão que lhe tinha sido confiada e tinha sentido as dificuldades do trajecto percorrido, ofereceu-se para ser ele o portador da ordem às baterias. Sabedor do risco que ia correr ao atravessar aquela zona de fogo, que ainda momentos antes tivera que transpor, tomou as suas disposições. Entregou ao oficial que tinha acompanhado todo o dinheiro que tinha, toda o sua riqueza, dizendo-lhe " se eu não voltar, meu Alferes, fará o favor de distribuir todos esses bens pelos soldados da minha secção ". Em seguida, recebida a ordem que seria portador, fez-se ao caminho com a maior serenidade. As patrulhas inimigas, que entretanto já tinham avançado e já próximo de uma das baterias, o nosso soldado viu-se cercado por uma delas. Sendo a situação má, seria feito prisioneiro. Não se atrapalhou. Tirou do bolso a ordem que levava, engoliu-a e caminhou na direcção da patrulha impávido, visto que seria inútil opor qualquer tipo de resistência. Sendo aprisionado, como tantos outros, sem ter chegado a cumprir a missão de que voluntariamente se incumbira, este soldado , vitima da sua abnegação teria merecido melhor sorte. Sabe-se que voltou a Portugal a seguir ao Armistício de 11 de Novembro depois de ter sofrido o martírio do cativeiro, mas perdeu-se o seu nome, que seria justo e merecidamente registado nos anais da História, como homenagem ao seu acto de abnegação e sangue frio. ( Tradição histórica de Portugal - Gen. Ferreira Martins ). Assim vai sendo feita a história deste país, com valores que hoje não dirão nada à grande maioria das pessoas. Mas graças a actos desta natureza podemos hoje viver em liberdade.

Sem comentários:

Enviar um comentário