A designação condado portucalense como as de província portucalense, tem origem, segundo consta, no termo portucale, termo que os antigos designavam a povoação situada na margem norte do rio Douro, próximo da sua foz. Só no séc. IX aparece o termo portucalense, aplicado a uma certa extensão de terra. O Porto servia de centro a uma região, tendo originado a designação Portucale, primitivamente reservado à povoação situada na margem direita do rio Douro. De toda a maneira, as circunstâncias que acompanharam a invasão sarracena, além de condições mais profundas e remotas, conferiram à região Entre-Douro-e- Minho, que ao mesmo tempo era norte da Lusitânia, e sul da Galécia, viria a ser origem do estado português. Aí os galegos são tratados como estrangeiros ou forasteiros indignos.
Em 1093, Afonso VI, tendo conquistado, Santarém, Lisboa e Sintra, constituiu com estes territórios um condado, cujo governo foi entregue a Soeiro Mendes, sob a autoridade de Raimundo, já casado com Urraca e por isso genro de Afonso VI. Raimundo ficou com a superintendência de toda a terra hispânica ocidental, desde a Galiza até as recentes conquistas. Pouco depois surge na historia da Península uma nova figura, que há-de vir a desempenhar um papel de muito relevo: Henrique, primo de Raimundo. Em 1095, Henrique estava casado com Teresa, filha ilegítima de Afonso VI, governando Braga e o seu território, na dependência de seu primo Raimundo. Entre 1095 e 1097, aparece Henrique já como senhor de Coimbra. Estendendo toda a sua autoridade até ao Tejo, cessando toda a superintendência de Raimundo, ficando Henrique a depender unicamente de Afonso VI. Nesta altura já o domínio cristão não compreendia Lisboa, pois Raimundo, vindo de Coimbra, ainda em 1905, fora desbaratado pelos muçulmanos nas imediações de Lisboa. Em 1097, estava definitivamente constituído o Condado Portucalense. Casando sua filha Teresa com Henrique, Afonso VI, não se limitou a entregar a este o governo da província portucalense, com a qual já se confundia frequentemente os monumentos dessa época no distrito de Coimbra e Santarém. O património do rei e da coroa, passaram a ser possuídos como bens próprios pelos dois consortes. Assim, o cavaleiro francês, que viera buscar na Espanha, mais fortuna que a que possuía e poderia vir e ter na sua pátria, viu realizadas as suas esperanças, além daquilo que provavelmente imaginara. A amovibilidade do governo henriquino do condado, era condição que muito importava para a tese insurreicionista. a desintegração portuguesa foi, assim, um acto ilegal, uma longa insurreição. Na combinação de forças , que o conde aproveitou, tinha lugar destacado a igreja romana com as suas tradições de disciplina e o seu génio construtivo. Estas duas situações, tornavam-se fundamentais para tirar a península do caos em que vegetava. O conde viu esta situação e apreendeu o quanto importava para o êxito da sua obra, integrar o condado na bem ordenada construção da igreja romana. Roma , seguiu uma linha que se definiu como facto consumado. Enquanto Portugal e outras nacionalidades da Península foram em Roma como pecas destinadas a acabar com o Islão, os papas consideraram que as diversas sociedades hispânicas deviam obedecer a um principio que seria a unidade de comando, a frente única. O factor eclesiástico foi muitas vezes causa das modificações politicas. As primeiras relações de Roma com o litoral hispânico remontam ao pontificado de Gregório VII. Com a morte de Gregório VII, lançam-se os fundamentos ainda imperfeitos de Toledo. A dependência de Braga em relação a Toledo era a contra partida eclesiástica da dependência de Portugal a Castela. Pascoal II é o primeiro papa que incita directamente Portugal à cruzada peninsular. À reconquista. Santarém conquistada por Afonso VI, cai de novo em poder dos muçulmanos. Neste degladiar das pretensões de Compostela e Braga, intercala-se mais um episódio da luta de Braga contra o primado de Toledo. Teresa não seguiu um plano de politica eclesiástica definido como fora o do conde Henrique. Se não hostilizou a igreja, também nada fez que provasse o contrário. Paio Mendes, arcebispo de Braga é preso, numa demonstração do poder civil e o eclesiástico. Portanto as relações entre o poder civil e o eclesiástico nada tinham de cordeais.
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