sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

APETECE-ME

Apetece-me deixar aqui um soneto de Florbela Espanca. Talvez lembrando-me ainda dos lares clandestinos e não. Não vou alterar nada com este soneto, só exprimir minha raiva.







DEIXAI ENTRAR A MORTE

Deixai entrar a morte, a Iluminada,

A quem vem para mim, para me levar.

Abri todas as portas par em par

Como asas a bater em revoada


Que sou eu neste mundo? A deserdada,

A que prendeu nas mãos todo o luar,

A vida inteira, o sonho, a terra, o mar,

E que, ao abri-las, não encontrou nada!



Ó Mãe! Ó minha Mãe, para que nasceste?

Entre agonias e em dores tamanhas

Para que foi, dize lá, que me trouxeste



Dentro de ti?... Para que eu tivesse sido

Somente o fruto amargo das entranhas

Dum lírio que em má hora foi nascido!...



Alertar também quem pensa que os nossos velhos merecem tudo de bom. Deram-nos Vida. Somos aquilo que somos a eles o devemos, mesmo aqueles a quem a Vida passou ao lado.


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